Acabou. Regressei a Portugal há uma semana. Na minha cabeça, ainda penso que não vou ficar em Portugal. Habituei-me a outra realidade e há que retomar agora àquela que é efectivamente a minha. É estranho voltar a casa e pensar que há outro país que agora também é um bocadinho nosso, há outra cidade que nos fica carinhosamente guardada no coração. Lisboa é, e há-de ser sempre, a minha cidade preferida, mas há todo um carinho que se desenvolve quando experimentamos positivamente a vida noutra cidade. Milão é uma cidade linda e fui muito feliz por lá, mas já tinha saudades deste céu azul de Lisboa... Arrivederci, Milano.
Conto pelos dedos das mãos os sítios que me desiludiram aqui por Milão, mas havia um em particular que me incomodava fazer parte dessa lista. Navigli é conhecida como a Veneza milanesa, o sítio perfeito para sair à noite e o mais bonito em dias solarengos. Bem sei que o problema é, antes de mais nada, meu, mas quando tentei sair à noite por aqui soube que não ia voltar. Sair à noite não é a minha praia, mas nada ali me suscitou o interesse para voltar. Faltava-me ver num dia solarengo, quiçá fosse mais bonito. Adiei a visita vezes e vezes sem conta porque tinha ficado com a sensação de um sítio sombrio, sujo e exageradamente cheio de turistas, mas chegou o dia em que quase me obriguei a levantar da cama e analisar a veracidade dos factos. Domingo de manhã. Arriscava-me a cruzar-me com um sem número de turistas, mas enganei-me. Estava um dia de inverno solarengo, águas reluzentes... e eu afinal até gosto deste sítio! Mas só de dia! As fotografias falam por mim.
Dos terraços do Duomo é possível avistar uma obra muito peculiar que não passa despercebida. A Torre Velasca, nos seus cento e seis metros de altura. Rompe com a regra na skyline milanesa desde os anos cinquenta e é um exemplo perfeito da arquitectura moderna e brutalista. É mais um dos exemplos arquitectónicos que ouvi falar na faculdade, em Lisboa, mas é sempre diferente ver de perto.
Estar em Milão desde setembro e ainda não ter subido aos terraços do Duomo era uma questão que me incomodava imenso, mas os dias frios e cinzentos que temos atravessado por aqui não convidavam a subir tão alto. Felizmente o tempo deu tréguas durante dois dias e saí de casa para aproveitar o sol de inverno no topo do Duomo. Não que o frio se tenha ido embora, afinal, estamos em pleno inverno, mas tinha a certeza que o aspecto limpo desde dia ia deixar-me ver muito além. Era domingo e, como sempre, a praça do Duomo estava cheia de turistas. As filas das bilheteiras eram enormes, mas quando há filas intermináveis é porque vale a pena e o facto é que valeu mesmo a espera e o número sem fim de degraus subidos. Eu sou suspeita, que adoro subir a sítios altos e olhar as cidades, mas há sempre sítios mais especiais do que outros. Este é especial. Avistava-se os alpes, naquele dia. Fotografei tanto quanto pude para quando a memória me falhar, mas saí de lá com vontade de me aventurar a subir aquelas escadas sem fim novamente.
Milão é conhecida como a cidade da moda e do luxo. Muitos dos acontecimentos importantes do mundo da moda acontecem aqui e raras são as lojas mundialmente conhecidas que já não têm os seus espaços espalhados pela cidade. Já o povo Milanês é conhecido como um dos mais sedutores de Itália, mas será...? É comum ver verdadeiras ladies a andar de bicicleta em pleno salto agulha. Qual Sarah Jessica Parker! As senhoras de Milão dominam a arte de usar um salto alto! E os senhores? O verdadeiro senhor italiano está sempre impecável da cabeça aos pés. Contudo, e como tudo mais, há de tudo por aqui! Milão é cidade da moda e do luxo, mas não o é exclusivamente.
Provavelmente é excessivo, mas não me canso de visitar esta parte da cidade. É, de longe, o sítio mais bonito. Sempre que aqui volto acho que reparo num ou outro detalhe novo. As fotografias nunca são iguais e é agradável ficar por ali a observar uns minutos só porque sim. Daqui a meses, anos até, vai ser agradável voltar aqui e rever as fotografias que tirei, por isso nunca serão demais. As fotografias avivam-nos a memória. Há qualquer coisa de mágico nestas galerias, não há?
Sobre Mim
Catarina França
Arquitecta de profissão e fascinada pela sensação de pisar território desconhecido.